E ainda o dia ia a meio... De cabelo arranjado e auto-estima renovada, voltei à tarefa do dia: preparar-me para a Gala!
Eu sabia que, tal como já tinha acontecido no estúdio, a minha aparição haveria causar alguma curiosidade, e que as canadianas não seriam fáceis de esconder. Ora, quando não se consegue contornar um problema, mais vale torná-lo numa grande atracção, de preferência, com sentido de humor: muito bem, resolvi a questão engalanando as canadianas com umas luzes de Natal!
Não me tinha enganado. As minhas luzes de natal, ou o meu sentido de humor, atraíram risos e sorrisos e... fotógrafos!
Acho que aquilo que mais surpreendeu as pessoas foi a minha boa disposição (genuína, garanto-vos).
Ao falar com as pessoas, dei por mim a sentir, nalguns discursos, uma certa pena pela minha pessoa e vi-me na necessidade de desdramatizar perante os outros a minha própria fractura.
Claro que partir uma perna é muito desagradável (para além de doloroso). E quando digo que fui operada e que tenho parafusos, todos fazem uma expressão de horror, e lá tenho eu de explicar as vantagens da decisão pela operação em vez de 2 meses de gesso e mais não sei quanto tempo de reabilitação. Cada vez tenho mais a certeza de que foi a melhor decisão.
E também fiquei com a certeza de que há muita gente a ler este blogue e a identificar-se comigo. Muitos sentem empatia por terem também vivenciado alguma situação de perda. Isto deixa-me cheia de orgulho em mim mesma, por estar, de alguma maneira, a inspirar outros.
Pelo meio, ouvi vários discursos de solidariedade da parte de colegas e isso creio ter mais a ver com o facto de perceberem e saberem o que é estar sem trabalho.
É uma realidade recorrente para a grande maioria de nós!
Curiosamente, estamos a implementar, no Teatro Ibisco, a ABOTA: um projecto comunitário para apoiar a população desempregada de bairros sensíveis de Loures no processo de arranjar (e manter!) um emprego digno e com direitos. É um projecto magnífico, do qual vos falarei em breve, e que contribui para melhorar as vidas de muitas pessoas. Afinal, ter trabalho não só é muito importante para a auto-estima, como é um passo no caminho para nos sentirmos úteis e valorizados. Para nos sentirmos bem.
E estar sem trabalho é uma merda, claro, mas ficar refém disso é muito pior. Não baixo os braços.
O que há a fazer é começar a preparar-me para o próximo trabalho, que estou certa virá... porque mereço.
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